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Por que Deus permite tragédias e sofrimento? – Reflexão de Rafael Rossi


Por marciobasso 03/02/2013 - 13h23

Domingo, 27 de janeiro de 2013. Centenas de jovens estavam na boate chamada Kiss, no interior do Rio Grande do Sul. Essa noite foi palco de uma tragédia. Depois de um incêndio, foram contados 235 que jovens perderam a sua vida. Ao todo, foram atendidos 568 vítimas do incêndio nos hospitais. O número de mortos, infelizmente, ainda pode mudar.
A tragédia despertou comoção nacional e internacional. Inevitavelmente, as pessoas perguntam-se: “Por quê? Por que Deus permitiu isso?” Tristemente, O sofrimento alcança todos nós. Numa hora ou outra ainda passaremos por momentos e situações doloridas como as que estão passando as famílias desses jovens.
Jesus sempre nos diz a verdade e é por isso que em João 16:33 Ele afirma: “No mundo tereis aflições…”. Ele não disse que poderíamos, Ele disse teríamos. Mas, por quê? A única resposta que posso dar honestamente consiste em três palavras: “Eu não sei.” Eu não posso estar no lugar de Deus e dar uma resposta completa a essa pergunta. Eu não tenho a mente de Deus. Eu não vejo com os olhos de Deus.
Mesmo não sendo possível entender tudo sobre Deus, podemos entender algumas coisas. Alguns dias atrás estava voltando de viagem para casa e começou um forte temporal. A força e a intensidade da água eram intensas e não conseguia enxergar nada a minha frente.
Fiquei atrás de um caminhão, que provavelmente estava conseguindo enxergar a frente melhor do que eu, e pelas suas luzes fui me guiando para não sair fora da estrada. O mesmo acontece hoje diante do temporal das tragédias. Existem alguns pontos de luzes sobre Deus que nos ajudam a permanecer no caminho certo.
O primeiro ponto de luz é que Deus não é o criador do mal e do sofrimento.
Gênesis 1:31 diz: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.” Deus existe desde a eternidade como o Pai, Filho e Espírito, juntos em uma relação de amor perfeito. Assim, o amor é o maior valor no universo. E quando Deus decidiu criar seres humanos, Ele compartilhou o amor.
Mas, para nos dar a capacidade de amar, Deus tinha que nos dar o que chamamos de livre arbítrio para decidirmos amar ou não amar. Por quê? Porque o amor sempre envolve uma escolha. Se formos programados para dizer: “Eu te amo”, não seria realmente amor, seriam apenas palavras.
A grande tragédia aconteceu quando o ser humano abusou do livre arbítrio, rejeitando Deus e escolheu andar longe dEle. O resultado foi a introdução de dois tipos de mal no mundo: o mal moral e o mal natural.
O mal moral é a imoralidade, a dor, o sofrimento, a tragédia que vem porque escolhemos, consciente ou inconscientemente, ser egoístas, arrogantes e insensíveis. O segundo tipo de mal é chamado de mal natural. Que se reflete em terremotos, tornados e furacões. Estes são resultados indiretos.
“Deus não poderia ter previsto tudo isso?” E sem dúvida Ele fez. Eu sou pai de duas lindas garotinhas. Mesmo antes de recebê-las como um presente, eu sabia da possibilidade muito real delas sofrerem decepções, dor ou sofrimento na vida. Sabia também que elas podem até me machucar e se e afastarem de mim. Eu sabia também da possibilidade de uma enorme alegria e um profundo amor com um grande significado.
Deus sabia que o ser humano iria se rebelar, mas Ele também sabia que muitas pessoas optariam por segui-Lo e ter um relacionamento com Ele e escolheriam passar a eternidade no céu. Isso é tão profundo para Deus que mesmo custando a dor e a morte de Jesus, Ele não desistiu do ser humano.
Romanos 8:28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. O versículo não diz que Deus faz o mal e o sofrimento, mas Ele promete transformar aquilo que não é bom em consequências boas. E observe que o versículo não diz que todos verão imediatamente, ou mesmo nesta vida, como Deus fez com que algo bom surgisse a partir de uma circunstância ruim.
Veja bem, Ele faz a promessa solene de tomar as circunstâncias ruins que nos acontecem e transformá-las em boas consequências se estivermos comprometidos em segui-Lo. Por isso, para as pessoas que sofrem, temos um remédio que pode fazer a dor diminuir e encher o coração de esperança. Precisamos levar urgentemente Jesus a elas.
Você pode estar pensando assim: “Não, Ele não pode, nessa circunstância da tragédia do Rio Grande do Sul. O prejuízo foi muito grande, o estrago foi muito radical, a profundidade do sofrimento foi demais. Nesse caso não há como Deus fazer qualquer boa a surgir”.
Se é difícil pensar em alguma coisa boa de tragédias, lembre-se que Deus tomou a pior coisa que já aconteceu na história do universo, o “deicídio”, ou seja, a morte de Deus na cruz, e transformou-a na melhor coisa que já aconteceu na história do universo.
Então, se Deus pode tirar algo de bom da pior circunstância imaginável e transformar na melhor situação possível, Ele não pode tomar as circunstâncias negativas e criar algo de bom com elas. Deus pode usar o nosso sofrimento para nos atrair a Ele, para moldar e aperfeiçoar nosso caráter e ajudar aos outros a entregarem-se a Ele.
O dia está chegando quando o sofrimento cessará e Deus julgará o mal. Alguém um dia me disse: “Se Deus tem o poder de erradicar o mal e o sofrimento, então por que Ele não faz isso?”
Por não ter feito ainda não significa que Deus não irá fazê-lo. A história deste mundo ainda não acabou. Ele diz que chegará o dia virá quando a dor e o mal serão erradicados. A justiça será feita de uma forma perfeita. Esse dia chegará, mas ainda não chegou.
Então, o que está esperando Deus? Uma simples resposta pode ser: “alguns de nós”. Ele realmente está atrasando a consumação da história na expectativa de que mais pessoas ainda coloquem a sua confiança nEle e escolham passar a eternidade no céu.
Outro ponto de luz importante nesse tema é que o nosso sofrimento não é nada em comparação ao que Deus tem reservado para seus seguidores. Eu não quero minimizar a dor e sofrimento, mas ajuda se tivermos uma perspectiva de longo prazo.
Olhe para este versículo: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação…” 2 Coríntios 4:17. Espere um pouco: “problemas leves e momentâneos”? Paulo foi cinco vezes picado, açoitado com 39 chicotadas e três vezes espancado. Mas, ele diz: “Porque nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação.” Paulo também escreveu Romanos 8:18: “Porque a mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”.
Digamos que no primeiro dia de 2013, você teve um dia terrível. Você teve que tratar de um canal com emergência no dentista, bateu seu carro e não tinha seguro, perdeu o emprego, seu cônjuge ficou doente, um amigo te traiu.
Depois, todos os outros dias do ano foram incrivelmente fantásticos. Então, alguém lhe pergunta em 31 de dezembro: “Como foi o seu ano? ” Você diz: “Foi ótimo! Foi maravilhoso” E ele lhe diz: “Mas você não começou mal? Você não se lembra do seu primeiro dia?”
“Você está certo. Esse foi um dia ruim, não posso negar. Foi difícil no momento. Foi muito duro. Foi doloroso. Mas quando eu olho para a totalidade do ano, foi um grande ano. Os 364 dias bons superam em muito um dia ruim.” É exatamente isso que o Senhor tem planejado e preparado para o ser humano. Um plano melhor, uma vida melhor.
E por último, nós é que decidimos ser amargos diante do sofrimento e das tragédias ou nos voltar para Deus e viver em paz e com coragem. Conhecemos exemplos de como o sofrimento faz com uns fiquem amargos, rejeitem a Deus tornando-se insensíveis. Já outras pessoas, a dor leva à entrega a Deus, tornando-se mais amorosa, disposta a ajudar outras pessoas que sofrem.
Voltando ao texto de João 16:33, Jesus nos diz “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Em outras palavras, Jesus nos oferece as duas coisas de que precisamos quando estamos sofrendo: a paz para lidar com nosso presente e coragem para lidar com o nosso futuro.
Como? Porque Ele venceu o mundo! Através de seu próprio sofrimento e morte, o sofrimento não tem a última palavra mais. A morte não tem a última palavra mais. Deus tem a última palavra! A morte não é o ponto final da existência humana, mas uma vírgula de uma história que continuará.
A resposta definitiva de Deus ao sofrimento não é uma explicação, é a encarnação. O sofrimento é um problema pessoal, que exige uma resposta pessoal. E Deus não é uma divindade distante, isolada ou desinteressada; Ele entrou em nosso mundo e experimentou pessoalmente a nossa dor.
Deus não só conhece e simpatiza-se com você em seus problemas. Afinal, qualquer amigo pode fazer isso. Quando ocorre uma tragédia, quando o sofrimento vem e você opta por correr em direção aos braços de Jesus, você vai descobrir que nEle está a paz para lidar com o presente, a coragem para lidar com o futuro e a incrível promessa de vida eterna no céu.
Passaremos ainda por dor e sofrimento. Neste mundo de pecado e cheio de cicatrizes, nunca sabemos quando a morte virá. Muitas vezes, não obtemos qualquer aviso de um ataque cardíaco, quando um motorista bêbado cruzará o canteiro central, quando um incêndio acontecerá, uma doença surgirá, um incêndio vai começar ou quando um avião perderá a potência. E assim, a pergunta que eu estou obrigado a fazer é esta: “Você está pronto?”
O chamado vem do Senhor. Decida hoje, neste momento, de modo que se a tragédia acontecer, a sua eternidade com Deus esteja segura.
Rafael Rossi
Teólogo, Secretário Ministerial Associado da Sede da Igreja Adventista na América do Sul
(Extraído do www.portaladventista.org)