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Itália e Grécia terão governos tecnocratas


Por marciobasso 11/11/2011 - 09h31

Sem direção e pressionada pelo mercado, a Europa troca as elites políticas locais por tecnocratas, adia eleições e dá prioridade à aprovação de medidas de austeridade para enfrentar a pior crise nos últimos 70 anos.
Na Itália, manobras para tirar imediatamente do poder o primeiro-ministro Silvio Berlusconi ganhavam força ontem, na esperança de acalmar os mercados e evitar a convocação de eleições proposta pelo premiê. Um governo de transição liderado pelo economista Mario Monti já poderia assumir na segunda-feira.
Enquanto isso, em Atenas, partidos chegaram a um consenso para passar o poder ao ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, Lucas Papademos, com a missão de evitar a interferência de partidos locais e aprovar o pacote de resgate da UE ao país.
A crise da dívida, que já era profunda, ganhou nova dimensão diante da crise política que passou a dominar os países afetados pela dívida. Christine Lagarde, que comanda o Fundo Monetário Internacional, alertou que a incerteza sobre o sucessor de Berlusconi estaria deixando os mercados nervosos. “Ninguém sabe exatamente quem surgirá como líder. Essa confusão é particularmente séria para a volatilidade”, disse. “Clareza política conduz a mais estabilidade.”
Diante da pressão, as tratativas para a formação de um novo governo indicavam que os italianos seguiriam um padrão parecido com o dos gregos, de formação de um governo de união nacional liderado por um tecnocrata e vigiado de perto por Bruxelas. O país tem uma dívida pública de 120% do PIB e se transformou no epicentro da crise europeia. O temor de Bruxelas é de que uma quebra da Itália signifique o desmonte da zona do euro.
Berlusconi havia aceitado renunciar diante da pressão do mercado por medidas de austeridade. Mas o faria após a aprovação das reformas e convocando eleições. Tudo indica que o pacote pode ser aprovado entre hoje e amanhã. Mas a ideia de eleições ainda não atendia à urgência do mercado e da UE.
Nesta quinta-feira, o projeto de convocar eleições começava a ser enterrado, assim como a era Berlusconi. Monti, atual reitor da Universidade Bocconi, surgia com força. Ele foi o comissário de Concorrência da UE e fez fama ao ignorar o lobby político e bloquear a fusão da GE com a Honeywell.
Em Bruxelas, a esperança é de que sua nomeação ocorra já antes da segunda-feira, para tranquilizar os mercados. Monti teria o apoio do partido de Berlusconi, o PDL, e do presidente Giorgio Napolitano, que nos últimos dias tomou as rédeas do país, mesmo com 86 anos.
Grécia
Parte do que pode ocorrer na Itália foi vivido nos últimos dias pela Grécia. Nesta quinta-feira, depois de dias de impasse, os principais partidos chegaram a um acordo para a formação de um governo que atendesse as exigências da UE e do mercado. George Papandreou pôs fim a seu governo de apenas dois anos, depois de ter perdido a confiança dos demais líderes europeus.
Mas a escolha do novo governo levou quatro dias, com partidos brigando pelo poder e alimentando as incertezas mundiais. A opção foi por Papademos, que jamais foi eleito para nenhum cargo e deixou claro que não é um político. Porém, é o homem de confiança dos bancos internacionais e de Bruxelas.
Papademos foi professor da Universidade Columbia entre 1975 e 1984, trabalhou no Fed e foi presidente do BC grego ao preparar o país para adotar o euro. De lá para cá, foi vice-presidente do BCE por oito anos e, na prática, conduziu o banco europeu até o ano passado.
Ao Estado, políticos gregos admitiram por telefone que nunca, nos últimos 20 anos, a pressão feita por Bruxelas foi tão intensa na política local como agora. “É como se estivéssemos vivendo uma intervenção”, disse o político, que pediu para não ter o nome revelado.
 Jamil Chade, de o Estado de S. Paulo

GENEBRA –