Algumas diferenças entre o ateu e o à toa
Um ateu é bem diferente de um “à toa”. A leitura desse artigo lhe ajudará a diferenciar os dois grupos, e também a ter uma visão mais misericordiosa dos ateus e agnósticos, a quem Jesus ama – mesmo que Eles não creiam nisso.
Na Mira da Verdade
Por jeferson 20/11/2014 - 17h19
INTRODUÇÃO
Ao ler o título desse pequeno artigo você pode estar pensando que me proponho a refutar aos ateus. Porém, não é esse o caso. Meu propósito é levar o leitor a refletir sobre a necessidade de compreendermos melhor alguns ateus e respeitá-los como seres humanos, pois muitos deles se tornam céticos por algum motivo compreensível, mesmo que não justificável.
Quero que você compreenda que muitos se tornam ateus não por causa de uma simples escolha que fizeram numa linda tarde de verão ou enquanto descansavam na praia. Há ateus e agnósticos que vivenciaram situações terríveis que os levou a questionar a existência de qualquer divindade que pudesse realmente amá-los nos momentos em que se sentiram desamparados e em meio à profunda dor emocional.
Antes de analisarmos um pouco melhor sobre uma das origens do ateísmo, primeiramente precisamos diferenciar um ateu de um à toa.
ATEU VERSUS À TOA
* O ateu se utiliza de alguma base racional para sua postura. É uma pessoa inquiridora, que aprecia estudar e não adota uma postura simplesmente por que “a maioria” o faz.
* O à toa, nem sabe o porquê é ateu. Torna-se “ateu” por que “está na moda”.
* O ateu, mesmo achando a religião fruto da mente “primitiva” (compreensão infeliz essa), pelo menos sabe respeitar aqueles que pensam diferente dele.
* Por sua vez, o à toa dirige palavras de baixo calão aos que creem, e não têm muita noção de civilidade, educação e respeito.
* Parte dos ateus possui uma razão compreensível (não estou justificando) para sua descrença em Deus.
* O à toa se diz “ateu” sem ter qualquer razão compreensível para isso, base lógica ou uma história de sofrimento que o tenha levado a duvidar da existência de um Criador amoroso.
Pretendo um dia aumentar essa lista de diferenças entre o ateu e o à toa. Porém, agora, quero me deter nesse último ponto, que é a ideia central de minha reflexão: o de que vários ateus possuem razões compreensíveis (não justificáveis) para seu ceticismo.
Imagine uma criança que cresceu ouvindo de seus pais que Deus é amor, e que Ele cuida não apenas daqueles a quem Ele ama, mas também dos que não O amam (cf. Mt 5:43-45). Porém, aos 13 anos, esse pré-adolescente vê os pais serem assassinados na sua frente num assalto à mão armada, enquanto entravam com o carro na garagem de casa.
A tendência nesse caso (não estou fazendo disso uma regra) é o jovem se questionar: “como um Deus de amor, que ama minha família, pode permitir uma coisa dessas?” Se tal questionamento não for trabalhado com a ajuda de um cristão adulto, para que a vítima compreenda as questões em jogo no conflito entre o bem e o mal (cf. Ap 12:7-9; Jó capts. 1 e 2), dificilmente esse pré-adolescente terá força interna, bem como alguma razão lógica, para acreditar que Deus existe.
O PROBLEMA DO MAL
Não precisaria ser assim[1], mas a existência do mal é o problema mais difícil com o qual se deparam muitas pessoas, ao ponto de se tornarem céticas quanto à existência de Deus e quanto ao valor da religião e da Bíblia. Ao invés de criticarmos um ateu por isso, precisamos compreendê-lo, pois uma situação de profunda dor psíquica, sem que a pessoa tenha tido uma visão mais ampla do conflito entre o bem e o mal (cf. Cl 2:14), pode levar a pessoa a descrer.
Para muitos, o sofrimento é mais uma preocupação existencial que intelectual, sendo portanto um problema de coração, não da mente. Elas não veem muito sentido na vida e no universo[2]. Por isso, o que muitos ateus mais necessitam é de compreensão e ajuda para descobrir as soluções bíblicas para o sofrimento deles.
Até mesmos nós cristãos (ou não cristãos) somos tentados a duvidar em certos momentos quando nos sentimentos profundamente perturbados diante de alguma tragédia. Sejamos crentes ou descrentes, somos limitados: temos uma visão míope e bastante subjetiva da realidade. Por isso, ao invés de criticar, deveríamos exercitar nossa capacidade de compreender. Afinal, a verdadeira inteligência emocional envolve compreender no lugar de julgar (cf. Mt 7:1, 2).
Devemos sim realizar um trabalho apologético em favor dos agnósticos e ateus[3], apresentando-lhes as evidências racionais a favor da existência de Deus e veracidade da fé cristã; porém, ao mesmo tempo, devemos olhar para eles como pessoas que têm uma história de sofrimento pior que a de muitos de nós. Devemos ser amáveis, compreensíveis e misericordiosos para com tais pessoas e mostrar a elas que, mesmo existindo o sofrimento no mundo, ele é um intruso (Gn 3), resultado de nossas escolhas (Gl 6:7).
Desde a queda de nossos primeiros pais (Gn 3), “o ser humano não vive mais como Deus planejou que vivesse. O egoísmo e a ganância do ser humano engendraram guerras, fome, a exploração desmesurada da terra, além de mudanças cruciais e potencialmente perigosas dos recursos do mundo”[4]. Devemos mostrar aos ateus e agnósticos que “nenhuma dessas coisas veio da vontade de Deus. Elas são fruto da ação do homem. Ouvimos com frequência que temos uma tecnologia capaz de nos extinguir. Foi escolha nossa, e não de Deus”[5]. É importante os conscientizarmos que, ao invés de serem devidamente explicadas pelo ateísmo ou panteísmo, “as falhas e defeitos em um mundo altamente ordenado e obviamente bem designado têm melhor explicação no resultado de um mundo bom ter sido deteriorado. É exatamente o que o teísmo propõe”[6].
O cristão vive com a esperança de que um dia o Criador restabelecerá a ordem, paz e harmonia de nosso planeta quando Jesus voltar em poder e glória a este mundo (cf. Mt 24:30, 31; Ap 1:7). Nesse momento, todas as lágrimas serão secadas de nossos rostos pelo próprio Deus (Ap 21:4). Isso foi possível por que um dia Deus escolheu sofrer na cruz (Hb 4:15; Ap 13:8; 1Pe 1:20, 21; Jo 1:1-3, 14; Mt 27:26-50), para pagar nossa dívida para com Sua imutável Lei (ver Mt 5:17-19; Rm 3:31) e livrar-nos da morte eterna (ver Rm 6:23)[7]. Ele pagou um preço para que todos os que cressem em Jesus (Jo 3:16, 36) tivessem a oportunidade de um dia viver sem dor e tristezas num mundo em que haverá “novos céus e nova terra, nos quais habitarão justiça” (2Pe 3:13, adaptado).
Gostaria de sugerir a você, amigo leitor ateu ou agnóstico que, enquanto essa promessa de Deus não se cumpre, nossa maior preocupação atual não deveria ser entender todos os aspectos do sofrimento. Sugiro é que você e eu aprendamos a lidar com ele de maneira saudável, desenvolvendo nosso Quociente Emocional (QE) e não simplesmente o Quociente de Inteligência (QI)[8]. A forma como encaramos o sofrimento pode nos levar a nos apegarmos a Deus ou a abandonarmos a fé nEle. Dependerá de nossas reações diante das tragédias, bagagem familiar e estrutura psíquica. Parcialmente, dependerá também de nossa escolha.
O cantor gaúcho Vitor Mateus Teixeira, conhecido como Teixeirinha (1927- 1985), de quem aprecio diversas músicas, perdeu a mãe quando ele estava com apenas nove anos de idade. A música em que ele conta sobre seu sofrimento por causa da morte da mãe se chama “Coração de Luto”, e já vendeu mais de 25 milhões de cópias. Até o momento não conheço uma canção tão triste como essa, mas o que me chama a atenção na história desse artista é que, mesmo tendo ficado órfão e vivido pelas ruas, sofrendo de fome e frio, tamanha dor não afetou sua confiança em Deus, como se pode perceber em várias de suas canções.
Você e eu podemos agir como Teixeirinha diante de uma tragédia ou perdermos a confiança no divino, prendendo-nos em nossa limitada lógica e no vazio existencial de uma vida sem Jesus Cristo. A decisão será nossa.
CONCLUSÃO
Olhando mais misericordiosamente para os ateus e agnósticos, nosso trabalho em favor deles será muito mais eficaz. Mesmo que não venhamos a ter êxito em convencer alguns quanto à existência de Deus, poderemos quem sabe dar início a uma nova amizade com alguém que também passa por sofrimentos como nós e que pode, com sua bagagem cultural e experiência de vida contribuir para nosso crescimento pessoal.
Já pensou no quanto poderíamos somar à vida um do outro, e o que poderíamos fazer para aliviar de fato o sofrimento da humanidade e dos animais se, ao invés de brigarmos, nos uníssemos em amor altruísta?
NOTAS
[1] Diversos apologistas (defensores da fé) cristãos têm abordado de maneira muito eficaz a questão do sofrimento, evidenciando logicamente que este, na realidade, pressupõe a existência de Deus. Por exemplo, C. S. Lewis, ex-ateu, escreveu: “O meu argumento contra Deus era que o universo me parecia demasiadamente cruel e injusto. Mas de onde foi que tirei esta ideia de justo e injusto? Um homem jamais pode afirmar que uma linha é torta se não tiver algum tipo de noção do que é uma linha reta […] Assim, na minha própria tentativa de provar a inexistência de Deus – em outras palavras, que a realidade como um todo era sem sentido -, descobri que eu era forçado a considerar que uma parte da realidade – ou seja, a minha ideia de justiça – estava cheia de sentido. Consequentemente, o Ateísmo passou a ser demasiadamente simplista para mim” (C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, capítulos 45 e 46 da versão em inglês).
Uma obra bastante útil, também de C.S. Lewis, para a análise dessa questão intitula-se O Problema do Sofrimento, publicada pela editora Vida. Um breve comentário sobre a mesma pode ser lido em Alister McGrath, A Vida de C. S. Lewis: do ateísmo à terras de Nárnia. [São Paulo: Mundo Cristão, 2013], p.p. 218-222). Para que possa analisar mais detalhadamente a argumentação cristã de que o sofrimento não pressupõe que “Deus não existe”, leia também Norman Geisler em Enciclopédia de Apologética: respostas as críticos da fé (São Paulo: Vida, 2002), pp. 533-539. Ver “mal, problema do”; Veja também Stephen Bauer, “Se Deus é Bom e Todo-Poderoso, Como Pode Permitir o Sofrimento?” em A Lógica da Fé: respostas inteligentes para perguntas difíceis sobre nossas crenças (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p.p. 129-137; Kenneth D. Boa e Robert M. Bowman Jr., “A Prova do Mundo Caído” em 20 Evidências de Que Deus existe: descubra por que crer em Deus faz tanto sentido (Rio de Janeiro: CPAD, 2008), p. 81-89. Veja-se também Leandro Quadros em “Nenhum ateu pode ser bom sem Deus”, disponível em https://www.novotempo.com/blogs/namiradaverdade/nenhum-ateu-pode-ser-bom-sem-deus/
[2] Alister McGrath, Apologética pura e simples: Como levar os que buscam e os que duvidam a encontrar a fé (São Paulo: Vida Nova, 2013), p. 167.
[3] Um método evangelístico interessante pode ser visto na obra de Alister McGrath, citada acima.
[4] McGrath, Apologética pura e simples…, p. 170.
[5] Ibidem.
[6] Kenneth D. Boa e Robert M. Bowman Jr., “A Prova do Mundo Caído” em 20 Evidências de Que Deus existe: descubra por que crer em Deus faz tanto sentido (Rio de Janeiro: CPAD, 2008), p. 88.
[7] Maior sofrimento que o nosso experimentou Jesus, Deus e legislador da Lei (compare João 1:1-3 e Colossenses 2:9 com Isaías 33:22 e Tiago 4:12), ao encarnar para pagar pela nossa transgressão à Lei que Ele mesmo havia criado, e que jamais a havia transgredido (ver Hebreus 4:15; 7:25, 26).
[8] Sugiro a leitura do clássico Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, de Daniel Goleman, publicado no Brasil pela editora Objetiva. Esse material tem me ajudado muito nesse processo de construção da Inteligência Emocional, que nos habilita a lidarmos com os problemas da vida saudavelmente – o que nos capacita a usarmos com sucesso nosso QI.