A Igreja Católica e a Formação da Bíblia
Descubra a real história a respeito da formação da Bíblia e saiba como responder algumas alegações contra o protestantismo.
Na Mira da Verdade
Por jeferson 20/02/2017 - 09h28
INTRODUÇÃO
Um sincero irmão católico fez alguns comentários contra a Reforma Protestante em minha página no Facebook. Essa imagem destacada que você vê no post é a imagem contra a qual ele argumentou. Ela apresenta os Cinco Solas da Reforma que, na opinião do internauta católico, constituem-se em “mentiras”.
A seguir, apresentarei as considerações dele seguidas de minhas respostas.
Irmão Católico: Sola Fé: mentira. A Bíblia defende Fé e obras (Tiago 2,16-23) pois fé sem obras é morta. Sola Scriptura: mentira. Os livros dos fundadores das seitas são tão inspirados quanto a Bíblia. Como não vão nem ao banheiro sem antes ouvir a revelação dos pastores e das pastoras, então não é sola scriptura. Solus Christus: mentira. A religião é baseada em nãos: “não pode isso, não pode aquilo, não pode aqueloutro”: se ver TV, mulher usar calça comprida e usar cosméticos e joias não está salva. Se não guardar o sábado não está salvo. Se comer bacon não está salvo. Se não participar da campanha, da fogueira santa, se não pagar o dízimo, se não pagar o pacto, se não pagar o voto – não será salvo. Então não crê que só Cristo salva. Sola Gratia: mentira. Graça Barata não leva ninguém para o Céu porque a Fé sem obras é morta. Soli Deo Glória: mentira: a ganância para ganhar dinheiro e para abarrotar a conta bancária dos pastores e garantir a eles viverem no glamour, no luxo e com fazendas e jatinhos não têm nada com glória de Deus. A Igreja Católica não pisoteou verdade nenhuma: foi ela quem traduziu a Bíblia do hebraico, aramaico e grego para o Latim e dividiu em capítulos e versículos, e vocês já receberam ela prontinha da Igreja Católica. Quem levanta falso testemunho a Igreja Católica vai responder diante de Deus.
Além das respostas a tais questionamentos, abordarei no presente artigo a equivocada alegação de que o Catolicismo Romano é responsável pela canonização dos livros bíblicos como os conhecemos hoje.
Enquanto for lendo minhas respostas a cada um dos cinco tópicos a seguir (os cinco “Solas”: Sola Fé, Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Soli Deo Glória) volte ao um pouquinho no texto se for necessário para trazer à memória as alegações feitas pelo irmão católico.
OS CINCO “SOLAS” DA REFORMA
Quanto ao “Sola Fide” e “Sola Scriptura”:
Primeiramente, o irmão precisa compreender que “Sola Fide” ou “Somente a Fé” se refere à justificação do crente, não à santificação. A justificação ocorre independente das obras (Ef 2:8, 9). Já a santificação envolve tanto a fé quanto as obras, porém estas são o resultado de um coração transformado pela graça ao longo de uma vida de fé. Se você compreender que Paulo trata mais da justificação e Tiago da santificação, a aparente discrepância desaparece.
Em segundo lugar, quanto aos livros das seitas serem considerados “tão inspirados quanto à Bíblia” (agora abordo a questão do “Sola Scriptura”), convido-o a avaliar a compreensão Adventista do Sétimo Dia em relação aos escritos de Ellen G. White, fazendo uso da fonte primária – ela mesma – por se tratar da co-fundadora do movimento. Verá que nós Adventistas (e outros cristãos protestantes) não adotamos a postura das seitas.
Veja o que ela diz sobre a Bíblia e sua relação com os escritos dela:
“Não devem os Testemunhos (ela se refere aqui aos próprios escritos) da irmã White serem postos na dianteira. Não devem os Testemunhos substituir a Palavra […] Provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade. A Palavra de Deus é suficiente para iluminar a mente mais obscurecida, e pode ser compreendida pelos que têm qualquer desejo de compreendê-la”[1].
Portanto, o irmão não deveria colocar Ellen White no mesmo patamar que Joseph Smith Jr e William Marrion Branham, entre outros.
Percebo caro irmão que o Catolicismo Romano faz o mesmo que as seitas supracitadas, ao colocar a Tradição Eclesiástica como intérprete das Escrituras. Atitude essa condenada por Cristo quando os fariseus fizeram o mesmo (ver Mateus 15:3, 9).
SOLUS CHRISTUS
Referente ao seu comentário acerca do “Solus Christus”, é importante que o irmão compreenda que isso envolve também ensinar os “nãos” de Cristo.
Dos Dez Mandamentos (Êx 20:1-17; Dt 5:1-21), oito começam com um “não”, pois Deus é um Pai e, por trás de cada “não” dEle há uma bênção. Concordo com você de que várias igrejas ensinam “nãos” inexistentes nas Escrituras, porém, não se deve generalizar.
Também penso como você: uma “religião do não” está longe da religião bíblica (e faz mais mal do que bem).
SOLA GRATIA
Realmente, “Sola Gratia” significa uma “graça barata” para muitas igrejas protestantes. Porém, esse não é o caso da igreja a qual pertenço, entre outras igrejas protestantes sérias.
Veja, por exemplo, as Confissões Reformadas. Nesses primeiros padrões doutrinários da Igreja Reformada[2], vemos que os protestantes nunca deixaram de lado a importância da santificação do crente, como o fazem muitos “protestantes” atuais.
Como destacou Russell P. Shedd: “[…] a justificação gratuita não deve ser um incentivo à graça barata”[3].
Mesmo que creiamos na justificação unicamente pela fé em Cristo (Rm 5:1), cremos que a verdadeira graça transforma (2Co 5:10) e é materializada em nossas vidas por meio de obras (Tg 2:10; ver também Ef 2:8-10).
O protestante Martin L. Jones bem escreveu: “se a graça que você recebeu não o ajuda a guardar a lei, você não recebeu a graça”[4]. Desse modo, o irmão não deveria enquadrar todos os protestantes na mesma categoria daqueles que pregam a “graça barata”.
SOLI DEO GLORIA
Também nesse ponto concordo parcialmente com você. Há pastores que não seguem seu real chamado e dão mais ênfase no ganho financeiro do que no ganho de pessoas para o reino de Cristo. Todavia, mais uma vez o convido a conhecer a postura de igrejas protestantes sérias e tradicionais que nada têm a ver com a teologia da prosperidade como ensinada atualmente.
Uma observação importante: a ganância, infelizmente, está presente onde há seres humanos. Com certeza ela foi uma das coisas que também motivou a venda de Indulgências por parte da Igreja no passado. O Vaticano e as vestimentas papais, com seu glamour, também revelam algo desse problema que afeta protestantes e católicos.
Todavia, nossos irmãos católicos nada têm a ver com isso, bem como os protestantes que assim como eles, vivem de verdade sua fé em Cristo.
A IGREJA CATÓLICA E A FORMAÇÃO DA BÍBLIA
No que diz respeito à formação da Bíblia por parte da Igreja, recomendo que o irmão se aprofunde na história da tradução do texto bíblico para perceber que isso não procede.
Bem antes do Catolicismo Romano, que surgiu por volta do 4º século, Jesus já reconhecia todos os livros do AT (ver Jo 5:46-47; Lucas 24:27, 44). Os apóstolos também tinham bem claro quais livros faziam parte do Cânon veterotestamentário (2Tm 3:15-16; 2Pe 1:19-21).
Outro detalhe importante: entre 67 e 68 d. C – o Catolicismo Romano não existia nessa época – Pedro já considerava os escritos de Paulo (ou seja, boa parte do NT) como estando na mesma categoria dos escritos inspirados do AT (ver 2Pe 3:15, 16). Veja que a formação tanto do AT quanto do NT nada tem a ver com o Catolicismo[5].
Considerando que o Catolicismo Apostólico Romano veio a existir por volta do 4º século com a paganização do cristianismo por parte do imperador romano Constantino, do ponto de vista histórico é totalmente infundado atribuir a origem dos livros bíblicos à Igreja Católica.
Os sínodos eclesiásticos, entre eles os de Roma (382 d.C), Hipona (393 d.C) e de Cartago (397 d.C) apenas reconheceram aquilo que a igreja apostólica já reconhecia como inspirado. Nada mais[6].
Como bem destacou Pedro Apolinário em sua obra História do Texto Bíblico, a canonização (reconhecimento da inspiração) dos livros bíblicos “foi um processo de acrescentamento gradual. E a divisão em Lei, Profetas e Escritos (veja, por exemplo Lucas 24:44) confirma esta afirmação. Foi o resultado do trabalho de um conjunto de pessoas. Não foi a autoridade eclesiástica que o criou; esta apenas sancionou e fixou a coleção de escritos que vinham sendo reconhecidos como divinos”[7].
A IGREJA CATÓLICA PRESERVOU A BÍBLIA?
Com toda certeza, não.
Os monges que preservaram as Escrituras eram de fato católicos, mas não a preservaram por ordem da Igreja.
Os principais manuscritos foram preservados por monges que viveram na clausura do deserto, especialmente no Egito. Tinham se afastado da Igreja, do Vaticano, apartando-se do mundo para adotar o princípio “Reze e Trabalhe”.
Roma praticamente havia anulado os monges. O Papa não interferia em nada na vida deles e nem sabia o que acontecia nos monastérios que eram tão independentes da Igreja que possuíam regras próprias.
Os monges copiavam os livros bíblicos e a Igreja nem ligava porque ela sabia que ninguém iria ali, e que tais materiais não sairiam para outro lugar.
Além disso, a Igreja só autorizava as Bíblias oficiais em Latim e numa edição muito limitada para reis, monarcas, bispos, etc. A Igreja não estava nem aí para os manuscritos. Prova disso é que tais Bíblias em Latim autorizadas pelo papado eram não mais que reedições da Vulgata Latina de Jerônimo.
Desse modo, a igreja oficial do papado não preservou trecho algum da Bíblia, pois as evidências apontam para o fato inegável de que a Igreja tentou é destruir as Escrituras.
Por exemplo, o Papa Inocente III (1198-1216)[8], proibiu a leitura e tradução da Bíblia para a língua franca e decretou que, se a Bíblia fosse lida ou ensinada por alguém sem expressa aprovação da igreja, essa pessoa seria morta.
No Concílio de Toulouse (realizado na cidade de Tolosa, na França, em 1229 d.C), foi proibiu o uso da Bíblia entre os leigos em sua língua regional para “evitar” que “heresias se espalhassem”. Mesmo que a intenção tenha sido boa[9] – evitar que as heresias dos cátaros[10] se espalhassem – a Igreja deveria, ao invés de proibir que os leigos estudassem a Palavra de Deus, incentivá-los ao estudo sistemático das Escrituras, ensinando-lhes princípios hermenêuticos corretos.
Ao contrário do que a Igreja decidiu naquele concílio (até certo ponto bem-intencionado), os apóstolos, quando se deparavam com heresias, nunca proibiam os leigos de irem ao texto bíblico, mas os incentivavam a crescer no conhecimento da Palavra de Deus (veja Hebreus 5:12-14; 6:1-3) através do estudo pessoal, assessorado especialmente pelo Espírito Santo (Jo 13):
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2:15).
“Desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3:15).
“Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11).
Perceba que além de Paulo incentivar os membros leigos a aprenderem por si mesmos a manejarem bem a “palavra da verdade” (2Tm 2:15), ele de certo modo incentiva crianças ao estudo da Bíblia (2Tm 3:15) e elogia a postura dos crentes de Bereia (At 17:11) por terem o costume de examinarem as Escrituras sem confiarem simplesmente nas “lentes teológicas” dos próprios apóstolos.
Definitivamente, o Concílio de Toulouse não orientou os membros leigos a se protegerem contra heresias do mesmo modo que os apóstolos o fizeram em seus dias.
Atualmente a Igreja não mantém a postura adotada no passado. No Concílio Vaticano II, por exemplo, realizado entre 1962 e 1965, ela incentivou que os fiéis lessem a Bíblia[11], apesar de ainda ter mantido a ideia de que à Tradição pertence o ofício de interpretá-la[12].
QUEM DIVULGOU A BÍBLIA FORAM OS PROTESTANTES
Vimos que quem preservou a Bíblia foram monges católicos sem a autorização da Igreja, e que ela “nem ligava” para os manuscritos, pois além de não se preocupar com o trabalho dos monges copistas, até proibia que as pessoas tivessem a Bíblia. A Igreja restringiu as Escrituras apenas para a “elite” e somente no idioma Latim.
Alguns irmãos católicos dizem que devemos “agradecer à Igreja Católica pela preservação da Bíblia”, porém, isso não condiz com os fatos. A história demonstra que foram os Valdenses[13] (entre outros movimentos) e os protestantes os divulgadores das Escrituras mesmo em meio à perseguição papal.
Com base nisso, gostaria também de fazer algumas perguntas aos nossos irmãos católicos:
a) A quem o mundo deve agradecer por conhecer a Bíblia? À Igreja Católica? A resposta óbvia é não.
b) Quantos missionários católicos levaram a Bíblia para o mundo?
c) Quais foram os missionários católicos que no passado possibilitaram ao povo ter a Bíblia em seu próprio idioma original?
Hoje possuímos traduções Católicas como a Bíblia de Jerusalém, Tradução Ecumênica da Bíblia, Ave Maria (etc) que estão, a meu ver, entre as melhores traduções do texto Sagrado.
Porém, nesse caso o presente não reflete o passado. Afinal, os fatos históricos comprovam que se a Bíblia hoje é o livro mais divulgado e vendido no mundo, isso se deu pelo trabalho árduo do protestantismo, não do catolicismo.
A DIVISÃO DA BÍBLIA EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS
Quanto à alegação de que católicos dividiram a Bíblia em capítulos e versículos, isso está apenas parcialmente correto. Realmente, foi Estêvão Langton (1150-1228), “professor na Universidade de Paris e, mais tarde, arcebispo de Cantuária (Inglaterra)”, quem elaborou “entre os anos de 1204 e 1026”[14] a divisão da Bíblia em capítulos que é usada nas edições modernas[15].
Porém, antes dele já existiam outros sistemas de divisão da Bíblia com, por exemplo, a antiga divisão do texto hebraico em seções chamadas “sedarins”. Para que na sinagoga o Pentateuco fosse lido em um período de três anos, este foi dividido em 167 sedarins[16].
Já a divisão em versículos foi feita por Roberto Estéfano (1503-1559), também católico. O NT ele dividiu em 1551 e, o AT, em 1555. Todavia, antes dele já havia um sistema de numeração na divisão do AT. Veja as preciosas informações a seguir extraídas de uma das notas de rodapé da obra supracitada de Wilson Paroschi:
Uma Bíblia Latina impressa por Johannes Herbort em Veneza, em 1484, foi a primeira a trazer os capítulos divididos em seções menores, identificadas na margem pelas letras A, B, C, D e assim por diante. Em 1523, um sistema de numeração do AT proposto em 1448 pelo rabino filósofo judeu Isaac Nathan, nascido em Arles (França), foi pela primeira vez utilizado numa concordância também impressa em Veneza, a primeira concordância das Escrituras hebraicas. Cinco anos mais tarde, o mesmo sistema foi inserido por Santes Pagninus, erudito católico italiano, numa Bíblia Latina, com uma numeração diferente para o NT. O sistema que prevaleceu nos meios tanto cristãos como judeus, porém, foi o mesmo o de Estéfano[17].
Um detalhe interessante sobre Estéfano é que ele chegou a simpatizar com algumas ideias de João Calvino (1509-1564), tendo sido acusado de “heresia” pelos professores da Universidade de Sorbonne (foi considerada o baluarte da fé católica) em Paris.
Devido às suas notas marginais inseridas nas Bíblias que imprimia, foi acusado de não acreditar na imortalidade da alma e consequentemente na intercessão dos santos, demonstrando com isso ser um católico que nem sempre permitia que a Tradição da igreja interpretasse a Bíblia por ele. Esse lado da história também deveria ser considerado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Que meus irmãos católicos analisem com carinho essas informações e sigam dispostos a conhecer a Jesus, o único caminho que nos conduz a Deus (Jo 14:6; 1Tm 2:5).
Ao mesmo tempo, peço que o Espírito Santo lhes guie no conhecimento de fontes históricas confiáveis, para que conheçam a real história da canonização dos livros bíblicos.
Oro para que os princípios da Reforma Protestante (os “Cinco Solas”) – como ensinados na Bíblia – sejam avaliados por eles à luz de um “Assim Diz o Senhor”, não sob o olhar vigilante e limitador da Tradição Eclesiástica.
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REFERÊNCIAS
[1] Ellen G. White, Evangelismo. 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014) p. 256, 257.
[2] Tais padrões doutrinários – a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg, Cânones de Dort e a Confissão de Westminster, por exemplo, podem ser lidos na língua portuguesa na Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª ed. (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009), p. 1749- 1835.
[3] Russell P. Shedd, Lei, Graça e Santificação. 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1998), p. 6.
[4] Citado por Russel P. Shedd em Lei, Graça e Santificação, p. 30.
[5] Se você preferir obras publicadas por editoras católicas, que tratam da formação da Bíblia, recomendo as seguintes: A origem da Bíblia: um guia para os perplexos, de Lee Martin McDonald (São Paulo: Paulus, 2015); A Formação do Novo Testamento em suas Três Dimensões, de Romano Penna (São Paulo: Loyola, 2014).
[6] Uma refutação à alegação de que foi a Igreja Católica que determinou quais livros fariam parte da Bíblia, pode ser vista na obra Respostas às Perguntas Que os Católicos Costumam Fazer (Rio de Janeiro: CPAD, 2007), de Toni Coffey, no capítulo intitulado “A Formação da Bíblia” (p. 29-40).
[7] Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico: Crítica Textual (São Paulo: Seminário Latino-Americano de Teologia, 1985), p. 140, 141.
[8] Foi sob a liderança de Inocente III que “o papado alcançou o ápice de seu poder”, inclusive por meio de cruzadas e perseguições contra os considerados “hereges” pela igreja. Foi ele quem deixou de lado o título mais comum ‘Vigário de Pedro’” e passou a chamar a si mesmo de “Vigário de Cristo”. Por isso, ele também reivindicou ter autoridade sobre governos seculares. Para mais detalhes, ver Justo L. Gonzalez, Uma História do Pensamento Cristão, vol. 2: De Agostinho às vésperas da Reforma (São Paulo: Cultura Cristã, 2004), p. 211-216.
[9] Ver Paulo Ricardo de Azevedo Júnior (padre), “A Igreja alguma vez proibiu a leitura da Bíblia?” Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-igreja-alguma-vez-ja-proibiu-a-leitura-da-biblia Acessado em: 01/12/2016.
[10] Os Cátaros (do grego katharos significa “puro”) eram sinceros cristãos, porém, adeptos da heresia chamada “Catarismo” surgida no Sul da França no final do século XI que ensinava, entre outras coisas, um extremo ascetismo e o chamado “Dualismo”, que consiste na crença de que há dois deuses: um dom bem (Deus) e outro do mal (Satanás), que teria criado o mundo material – contrariando, desse modo, Gênesis 1.
[11] No Catecismo da Igreja Católica, Edição Típica Vaticana (São Paulo: Loyola, 2000), são apresentados três critérios indicados pelo Concílio Vaticano II para que os membros adotem na interpretação da Bíblia: 1. Prestar muita atenção “ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira”; 2. Ler a Escritura dentro “da Tradição viva da Igreja inteira”; 3. Estar atento à analogia da fé. Isso demonstra claramente que os esforços atuais são para que os irmãos Católicos leiam a Bíblia.
[12] Mesmo que no referido catecismo o Magistério não seja colocado acima da Palavra de Deus, o pensamento católico quanto à interpretação das Escrituras continua diferente daquele adotado pelos protestantes, que acreditam ser possível qualquer pessoa interpretar as Escrituras com o auxílio do Espírito Santo, sem a supervisão da Igreja (Dt 17:19; At 17:11; 2Tm 3:15, seguindo regras hermenêuticas extraídas do próprio Texto Sagrado (ver, por exemplo, Lucas 24:27, 44). Ao contrário do que pensam os protestantes, no Catecismo da Igreja Católica é dito: “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”. Continua: “isto é, foi confiado [o ofício de interpretar a Bíblia] aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (ver p. 36). Todavia, em 2 Timóteo 3:15 Paulo diz que Timóteo desde a infância já aprendia das Escrituras – obviamente com a supervisão dos pais, não da Igreja Católica Romana.
[13] Os “Valdenses” foram seguidores de Pedro Valdo (1140-1220 d.C), um comerciante da cidade de Lyon, na França, que decidiu ensinar a Bíblia ao povo contra a vontade da Igreja no período medieval. Para isso, ele encomendou uma tradução da Bíblia na língua comum do povo. Para os Valdenses, as Escrituras deveriam ser a única fonte de autoridade do cristão, não a Tradição Eclesiástica. Obviamente, eles foram duramente perseguidos e até mortos por defenderem e espalharem o conhecimento das Escrituras. Os sobreviventes se reuniam escondidos em vales, montanhas, cavernas e bosques para ouvirem da Bíblia, estudá-la e copiá-la. Ricos detalhes sobre a história deles podem ser vistos na obra O Grande Conflito, 43ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), de Ellen G. White, no capítulo intitulado “Um Povo que Espalha Luz” (p. 61-78).
[14] Wilson Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012), p. 33.
[15] Para mais informações sobre a divisão da Bíblia em capítulos e versículos, bem como acerca do acréscimo da pontuação, ver: Pedro Apolinário, História do Texto Bíblico: Crítica Textual, p. 204-210; Wilson Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento, p. 25.
[16] Apolinário, História do Texto Bíblico: Crítica Textual, p. 204.
[17] Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento, p. 34 (Ver a nota 128).