Mercados derrubam governos – O interesse do mercado está acima dos do povo
Por marciobasso 15/11/2011 - 18h11
Silvio Berlusconi e George Papandreou perderam recentemente seus cargos de chefe de governo na Itália e Grécia respectivamente. Para muitos, ambos já vão tarde; para outros, não. Apesar das ambiguidades nacionais sobre as popularidades ou não destes governantes; não foi o povo quem realmente os derrubou. O grande inimigo deles foi o mercado financeiro.
Não é novidade que os mercados influenciam nas decisões políticas. Um bom exemplo para os brasileiros foi quando Lula se elegeu pela primeira vez presidente, em 2003. Na ocasião, ele foi bastante cuidadoso e deixou claro aos mercados que não iria mudar a condução econômica do país. Foi assim que, aos poucos, o dólar se desvalorizou, as bolsas se acalmaram e os créditos voltaram à praça.
Mas, no caso da Grécia e Itália, há uma combinação que ficou cada vez mais frequente e perigosa. A velocidade que rege o mercado financeiro também é exigida dos governos. Nos dois países, a estrutura do Estado é fundamentada no parlamentarismo, o que torna o governo ainda mais suscetível à ansiedade do mercado.
No parlamentarismo, é necessário um permanente entendimento entre deputados e senadores, responsáveis não só pela elaboração das leis como também pela execução dos programas de governo. Ou seja, sem entendimento o governo não tem capacidade para executar nada e tudo para.
Competição selvagem
O mercado financeiro é formado por bancos, financeiras, seguradoras, administradoras de fundos e outros agentes menores. Juntos competem entre si – por isso uma informação pode ser muito valorizada. Esta mesma informação antes dos concorrentes tem no mínimo o dobro de valor. Assim, todos no mercado financeiro vivem ansiosos por dados que indiquem qual o melhor produto para investir ou qual país terá crescimento no próximo semestre.
Quando não há informação que indique reação do Estado ou instituições como o FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre alguma demanda pontual, o mercado especula. O medo conduz as decisões e normalmente o que se teme no início se torna realidade antes do final. O pior é que esta lógica é bastante conhecida e ninguém quer esperar o pior acontecer – por isso, como manadas: ao menor sinal todos correm.
O medo tomou conta de Atenas e Roma
Na Grécia o mercado financeiro reagiu imediatamente depois que Papandreou anunciou um plebiscito em que a população decidiria sobre os cortes de gastos públicos exigidos pelo FMI e UE. Para os investidores esse foi o sinal errado. Consequentemente, o governo voltou atrás e retirou a proposta de votação. Mas isso não satisfez e o líder grego teve de renunciar para dar lugar à Lucas Papademos, um tecnocrata bem relacionado no mercado. No país que inventou a palavra democracia, a consulta pública foi abdicada por vontade dos agentes financeiros.
Na Itália o roteiro foi parecido. Os barulhentos italianos não tiveram tempo de discutir seu futuro. Ao ver que Silvio Berlusconi não iria agir com a velocidade que lhe interessava, o mercado pressionou e especulou. As mamas italianas tiveram que abandonar a calmaria de seus finais de semana e em dois dias tudo mudou, Berlusconi caiu sábado (12) e o presidente Giorgio Napolitano se viu obrigado a correr para anunciar um substituto no domingo (13), Mário Monti, que, como seu congênere grego, também desfruta da simpatia do mercado.
Com certeza o novo premiê italiano não tardará em mostrar eficiência e rapidez para responder às pressões do mercado. O objetivo é claro: adotar atitudes drásticas e rápidas antes que as bolsas de valores abrissem novamente na segunda-feira (14). Se os italianos não tomassem essa medida poderiam ver seus títulos se desvalorizarem e a crise só se agravaria.
Povo x mercado
Desde a Grécia antiga, umas das atribuições mais positivas do sistema democrático foi seu espaço de debate. Diferentes interessados em temas distintos podem se encontrar no congresso ou outros espaços públicos e por meio da disputa discursiva amadurecer propostas. Esse período é necessário para o desenvolvimento de ideias. Os parlamentares tem essa função, seus temas variam em importância e por vezes transbordam sendo discutidos também pela sociedade. Nesse processo há a possibilidade da construção de uma concordância ou convencimento dentro da população. Teoricamente os erros são minimizados e a aceitação de mudanças é maior.
Hoje as tecnologias de informação atingiram tamanha velocidade que os mercados estão exigindo de governos reações que não permitem a maturação das ideias. Por isso se torna tão perigoso permitir que a ansiedade financeira se sobreponha aos interesses da sociedade. Decisões importantes sobre o futuro das vidas alheias são tomadas em segundos para satisfação dos mercados. Isto não é novidade, mas para o bem de poucos e tristeza de muitos esse fenômeno está se agravando. Resta a dúvida de quem será a próxima vitima do fantasma do medo financeiro.
Fonte: http://noticias.r7.com/internacional/noticias/mercados-derrubam-governos-20111115.html
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